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A ESCRAVIDÃO DA MATERNIDADE





Eu fui mãe com 19 anos. Faria 20 anos, 52 dias depois. Estava no segundo ano da faculdade. Nesta idade, apesar de estar no início da vida adulta, a iniciar o meu percurso académico, não era, de todo o que estava à espera que acontecesse.

Num espaço de meses, casei e fui mãe. Estou casada com o amor da minha vida há 18 anos. Tenho uma filha maravilhosa que já fez, entretanto, 18 anos.

Hoje olho para trás e penso: "dasse" Gabriela, como é que conseguiste?" Consegui com a ajuda da minha família. Sem ela, não teria conseguido acabar o curso. 

De noite a minha filha bebé dormia no quarto dos meus pais (moramos com os meus pais 8 anos), isto porque tinha aulas bem cedo. Portanto, a minha mãe e o meu pai tomavam conta dela para que eu pudesse descansar para ir para a faculdade.

Durante o dia a minha sogra tomava conta da menina. Sim, foi a minha sogra que lhe deu a primeira papa, a primeira sopa e a primeira fruta.

Eu tinha de ir estudar para o futuro da minha família.

Muitas vezes chorei porque, quando a minha filha começou a falar, chamava mãe à minha mãe e à minha sogra (óbvio, ela ouvia o pai, a minha cunhada, eu e a minha irmã a chamar mãe às nossas respectivas mães). Era sempre corrigida, carinhosamente, pela minha mãe: "eu não sou a mãe, sou a avó".

Os meus momentos com a minha filha pequena foram muito especiais: era sempre eu que lhe dava o banho e lhe dava o jantar. Os banhos eram o nosso momento, onde cantávamos as canções infantis e ela dizia que queria ficar sempre mais um "cadinho", quase até ficar com a pele engelhada 😋😂

Depois do banho, íamos para o quarto, eu dava-lhe a sopa e a refeição a ver desenhos animados.

Olhando para as novas teorias da maternidade e parentalidade, eu estaria a anos-luz de ser um exemplo de mãe. Não estive presente em alguns momentos cruciais da vida da minha filha. Sim, deixei-a ver televisão enquanto comia, sim ela fazia "casinhas" na sala e não arrumava.

Hoje, mãe de uma jovem adulta, olho para a minha deficiente maternidade (aos olhos de hoje em dia), cheia de apoios e ajudas dos avós e penso: a minha filha teve uma infância muito feliz!

De dia, eram as regras (sempre com muito carinho) da vó Lininha (a hora para dormir, a hora para comer, arrumar depois de brincar, a só beber água às refeições). À noite, era a "ramboia" na vó Tizinha, onde estava autorizado beber coca-cola (crucifiquem-me!). O vô Luís ia buscar à escolinha e o vô Zé António a estudar a lição de casa.

Sim, eu tive ajudas. Sim, não passei noites em claro. Mas isso não me torna pior mãe do que qualquer outra que passou por tudo isso.

Graças a esta educação pouco recomendada pelos vários psicólogos infantis e cartilhas da educação, a minha filha é uma mulherzinha equilibrada. Soube, desde muito pequena, saber estar em diferentes situações. Ela sabia que, na casa da vó Lininha podia brincar, mas depois tinha de arrumar os brinquedos. Mas, sabia que na casa da vó Tizinha podia brincar sem arrumar.

No meio desta incoerência familiar, foi-se formando um ser humano equilibrado.

Volvidos 18 anos, e fazendo uma retrospectiva da minha estranha maneira de ser mãe, e vendo a novas tendências de maternidade, ser mãe ou pai não vem com livro de instruções. Tudo depende das circunstâncias em que nos surge a parentalidade. Para mim, chegou de surpresa.

 A minha filha soube, desde cedo, que podia confiar na mãe, que podia contar quase tudo à mãe (sou mãe, não a melhor amiga), que os pais não a planearam, mas sempre a desejaram. Que o amor sempre foi o laço mais forte.

 Eu posso não ter dado a primeira sopa, mas eu sou o seu porto seguro. É em mim que ela confia alguns dos seus pequenos segredos. É comigo que desabafa as suas angústias e pede ajuda para decisões importantes. Sabe que o pai e a mãe a irão sempre apoiar nas suas decisões e que o facto de ter uns pais jovens beneficia mais do que prejudica. 

Às mães de agora, se me permitem, deixo um conselho: mais do que fazer mil e uma actividades, dar "n" brinquedos, demonstrem AMOR aos vossos filhos.

 Não se sintam mal por, às vezes, precisarem de um tempo para vós. Antes de sermos mães, somos mulheres. Não é ser egoísta, é cuidar de si própria. E, acreditem, se forem felizes como pessoas, terão filhos felizes!

Saudações Maternas,

Gabriela












1 comentário:

  1. Minha Querida Gabriela...
    Tive também um exemplo assim na Familia e talvez pense de forma diferente de muita gente... Mas acho que nao existe idade pra ser mae e para além disso também acho que quanto mais cedo melhor... "as pessoas" estão sempre á espera do momento exato pra serem maes pois eu nao acho que seja bem assim ... Acabam por ser mais muito tarde e muitas das vezes até nao terem paciencia para os filhos...
    Basta saber amar e ser amada pra ser uma boa mae e feliz é a criança que nasce num "colo " assim como o vosso! nao é preciso estarmos sempre com os filhos,nalguns casos acho até prejudicial, preciso é passarmos bons momentos intensos com eles... Os meus parabéns pois apesar do pouco que te conheço és uma pessoa maravilhosa , também começo a entender o porque! tens , de fato, uma familia exemplar e isso trouxe ao mundo o resultado da Gabi que conheço... conviver com pessoas maravilhosas só traz bons resultados e sorte da tua filha entrar numa família assim... com amor tudo se consegue e o resultado de teres uma filha assim tem a ver com o trabalho de todos que deve contecer em qualquer altura da nossa vida , sendo nós estudantes ou trabalhadoras... A isso sim se chama Familia e só te deves sentir orgulhosa por isso como sei que te sentes... ok,voçes parecem irmãs!!! mas isso é porque tens a vantagem de ser linda de morrer e em todos os sentidos...
    Amor gera Amor e o Resultado disso sao sorrisos e é o que tu és, um sorriso lindo de se ver e sentir,uma mulher feliz, completa e verdadeira!
    um grande xi <3 e continua essa vida linda que tens <3

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