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TREZE EUROS E VINTE E SETE CÊNTIMOS




Por onde começar meu DEUS?

Bem, eu desconhecia a música por completo até que num daqueles jantares de mulheres, o dono do restaurante decidiu passar esta música.

Era ver toda a mulherada a cantar: num sei o quê, num sei o quê, cê tá dix brincadeira, tomi lá cinquenta rêais!

E eu, tadita, senti-me o último dos seres humanos naqueles cerca de 3 minutos e 34 segundos.
Com'assim, Gabriela, tu não conheces esta música? Então, eu decidi que jamais isto poderá acontecer comigo.

Para tentar perceber se eu era a única que não conhecia esta música, perguntei à minha filha. Eis que resposta dela: Por favor, mãe! Não conheces essa música? E lá começou ela a trautear o raio da música.

Assim descobri que esta música pertence a uma senhora, uma tal de Nayara que, para não se sentir sozinha, convidou umas amigas para fazer uma "perninha" na música: as manas sertanejas Mayara & Maraysa.

Logo pelo nome das cantoras dá para perceber o nível.

Então é assim:

Diz a senhora, logo no início da canção, que a mesma é uma história verídica. E - coitada - aconteceu com ela. E, acreditem, é mesmo para ter pena. Tendo em conta o que se vai passar a seguir.

Pelos vistos, ela tinha um marido que todas as quartas-feiras ia jogar "futxibol" (pelo menos assim ele o dizia). Ela estava sossegada em casa a dançar um "funki" e a ver a novela das oito, e ele ia jogar uma "pelada" por aí (nunca pensava a Sr.ª Nayara que o termo pudesse ser tão literal).

Não sei como (a senhora não explica na música, talvez o seu sexto sentido) ela descobre que o tipo andava a "pular a cerca" e decidiu segui-lo. Coisa de pobre, obviamente.

Vai segui-los no "ônibus" e descobre que ele leva uma tipa para o mesmo motel onde a Nayara e o marido passaram a lua de mel. Sobre isto tenho algumas considerações a fazer:
1.º O gajo é parvo, porque leva a tipa para o mesmo lugar onde levou a mulher. Pobre...
2.º O gajo é pobre;
3.º Quem é que passa lua de mel em motel? Pobre...
4.º Quem é que promete o céu num motel? Pobre...

Pergunta que não quer calar: 
Como é que a Nayara consegue entrar no quarto de motel onde está o marido e a "vagaba" que joga "pelada" com ele?

Óbvio: ela tem os "conects" dela ainda do tempo da lua de mel no tal motel. Com certeza conhece uma arrumadeira a quem conta a sua desconfiança (vocês sabem como as mulheres são unidas quando é para desmascarar uma eventual traição) e esta arranja-lhe uma chave do quarto.

Parece que estou a ver a cena:

Ela caminha decidida e abre a porta do quarto de rompante e diz:

"Bonito!
Que bonito, hein!
Que cena mais linda
Será que eu estou atrapalhando o casalzínho aí?"

O casal fica especado a olhar para ela. Mas ela não desarma, virada para o marido:

"Qui lixo!
Cê tá di brincadeira
Então é aqui o seu futibol toda a quarta-feira?"

O homem fica ali, enrolado nos lençóis, com cara "di babaca"
 e ela atira-lhe à cara:

"E por acaso esse motel
é o mesmo que me trouxe na lua de mel
é o mesmo que me prometeu o céu
e agora mi tirou o chão"

Oh Nayara, estavas à espera de quê? O que podes esperar de um homem que te leva para um motel na lua de mel? Por favor! Casaste por amor, só pode. Essi cara é um "cafagesti"!

O tipo já se ia começar a vestir e ela diz-lhe com olhar de ódio, com o olho esquerdo a tremer:

"E não precisa se vestir
Eu já vi tudo o que eu tinha que ver aqui
Qui dicepição
Um a zero pra minha intuição"

Lá está: gaja é pior que agente do FBI. Se "bobear" homem tá tramado, pois quando mulher desconfia, normalmente não se engana.

E era agora, era neste momento, que a Nayara deveria ter ido embora.
 Ter mantido uma réstia de dignidade. Devia ter ficado pela frase: "Um a zero pra minha intuição". 

Batia a porta e caminhava firmemente pelo corredor do motel, a chorar baba e ranho, é certo, mas de cabeça mais ou menos erguida (já bem bastou tê-lo seguido até ao motel em que passou a sua lua de mel. Coisa mais deprimente impossível).

Mas não. A "baiana ainda não tinha rodado". E era bom ela não sofrer de labirintite, pois ia começar a rodar:

"Não sei se dou na cara dela ou bato em você
Mas não vim atrapalhar sua noite de prazer
E para ajudar a pagar a dama que lhe satisfaz
Toma aqui uns 50 reais"

Eu não disse que isto ia descambar?

Nayara tem um ataque de fúria e com um misto de ódio com ironia atira-lhe com uma nota de 50 reais que, convertido para euros, dá 13,27 €. Para a ajudar a pagar a noite de prazer?

Aqui se vê a baixaria que isto é. Nem 20 euros é. Ainda tinha direito a troco. Oh Nayara tu bateste no fundo do poço. Por aí vês logo que o tipo que paga 13,27 Euros por uma "peladinha di cerca" é coisa de vá, pobre.

Depois de toda esta história de traição passada a música, depois de analisar todo o enredo, o meu maior respeito pela Nayara, pois teve a coragem de assumir que foi traída por um tipo que pagou 13,27 Euros! 
Outra no lugar dela teria vergonha de contar isto a uma amiga, quanto mais fazer uma canção sobre isto!
Nayara, meu Saravá pr'a ocê!


Gabriela









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